quarta-feira, 30 de julho de 2008

OEIRADAS


* Benedito Amônico



Oeiras, primeira capital do Estado do Piauí, foi, inicialmente, chamada Vila da Mocha, por situar-se às margens do riacho de mesmo nome, que tinha, quando ainda corrente, o “Pouca Vergonha” como seu maior afluente. A cidade foi povoada, no primeiro momento, em derredor da primeira capela erigida em terras piauienses, cuja bênção se deu em março de 1697, dedicada a Nossa Senhora da Vitória. Foi elevada a vila em 1712 e a cidade em 1761.
Tornou-se capital em 1759, permanecendo nessa condição até 1852, quase 100 anos. Considerada a cidade de maior religiosidade do Estado, lá ocorrem, durante todo o ano, manifestações fervorosas de crença.
Pois bem. Nesse cenário histórico e de muita devoção, aconteceu, nos idos de 1950 do século passado, o seguinte causo. O boêmio inveterado Doquinha Martins, de saudosa memória, um freqüentador contumaz das “primas”, depois de grande noitada, retorna a seu lar por volta das 5 da madrugada. Naquela noite caíra um toró medonho. Temporal intenso de relâmpagos cortando o céu de norte a sul e de leste a oeste. Tentando aparentar tranqüilidade, mas no fundo preocupado por haver cochilado além da conta, caminha pelo beco estreito que dava nas “primas”. Ao passar pela porta da rua da residência de sua vizinha, dona Bilú, eis que, para sua surpresa, ela aparece, de véu, terço na mão e fita do apostolado da oração no pescoço, prontinha e de saída para assistir à missa na catedral. Doquinha, educado que era, cumprimenta-a, balbuciando um bom dia, meio sem jeito, e acrescenta: “o Mocha deve estar cheio, não é?” Dona Bilú então responde: “e a ‘Pouca Vergonha’ também.”




(*) Benedito Amônico é oeirense